ELISA RIBEIRO
Inclusão, visibilidade, garantia de direitos e combate ao preconceito foram temas bastante presentes nesta última semana de agosto no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV-Ufam), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). De 27 a 31, a instituição promoveu a I Jornada Multiprofissional de Cirurgias de Modificações Corporais em Pessoas Trans e Intersexo no Amazonas. Durante o evento, além das palestras e minicursos para troca de experiências e aperfeiçoamento profissional, foram realizadas 25 cirurgias em 23 pacientes acompanhados pelo Hospital.
Durante a abertura da Jornada, que aconteceu na noite da terça-feira (27), a diretora de Atenção à Saúde da Ebserh, Lumena Furtado, mencionou a importância da criação de serviços especializados para este público. “A Ebserh tem trabalhado com uma perspectiva de que toda a nossa Rede possa, cada vez mais, estar fazendo o ensino, a pesquisa e a assistência preocupados com um cuidado inclusivo. O acesso tem que ser garantido por processos de trabalho que reconheçam a diversidade e as necessidades singulares”, ressaltou.
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A gestora destacou a participação de diversos profissionais de todo o país, em especial, das equipes de quatro hospitais da Ebserh, destacando a atuação em Rede: o Hospital Universitário Professor Edgard Santos, da Universidade Federal da Bahia (Hupes-UFBA); o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE); o Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF); e o Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS).
Compromisso em incluir e transformar
Ainda na ocasião de abertura, também a coordenadora do evento e chefe da Divisão Médica do HUGV-Ufam, Conceição Crozara, refletiu sobre a garantia da visibilidade que pessoas transexuais e intersexo precisam ter. Sobre isso, ela pontuou que a continuidade de ações para promoção da qualidade de vida desses cidadãos seja garantida: “Temos muita vontade de fazer com que não seja apenas um momento, mas que a gente dê segmento ao acolhimento qualificado, digno e respeitoso a toda diversidade”.
Isaac Lopes, representante da Associação Transmasculina do Amazonas, foi um dos beneficiados com a cirurgia durante o evento. Segundo ele ressaltou, este foi um momento histórico e de muita esperança para o processo transexualizador. “Nossa comunidade olhará para esse evento com olhar de esperança na ampliação de políticas de saúde LGBTQIAPN+ e no processo transexualizador. Este evento está abrindo portas para cuidar da saúde dessas pessoas e realizar sonhos. O SUS transforma!”, expressou.
O superintendente do HUGV-Ufam, Juscimar Carneiro, citando os princípios do SUS de universalidade, integralidade e equidade, declarou que o Hospital trabalha para garantir saúde, independentemente de gênero, raça, ocupação ou características sociais ou pessoais, articulando-se para fornecer aquilo que cada paciente precisa, chegando, especialmente também, a comunidades indígenas. “Saúde é um direito de todes, todos e todas as pessoas”, concluiu. A cerimônia completa de abertura pode ser vista aqui.
Cirurgias multidisciplinares
Para a realização das cirurgias foram reunidas equipes multidisciplinares as áreas da Urologia e da Cirurgia Plástica. A coordenação da equipe de Urologia foi do médico Ubirajara Barroso, chefe da Unidade do Sistema Urinário e da Divisão de Cirurgia Urológica Reconstrutora e Urologia Pediátrica do Hupes-UFBA/Ebserh. Conforme afirmou, essa jornada constituiu-se como um marco para a população intersexo e trans da região amazônica. “Demos assistência a um grupo que sofre preconceito e propiciamos a replicação do conhecimento, ensinando novos profissionais a avaliar, saber como abordar esses pacientes e a realizar cirurgias reparadoras ou transexualizadoras. Foi um evento transformador”.
À frente da equipe de Cirurgia Plástica, o médico Rodrigo Itocazo Rocha, que atua como médico da Divisão de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), destacou que o evento demonstrou o cuidado prestado a esses pacientes, com acompanhamento e oportunidade de acesso às cirurgias de modificação corporal. “Dar visibilidade às pessoas trans e intersexo através da Jornada e aproximar profissionais gabaritados na atenção às pessoas atendidas é fundamental para a habilitação do serviço de maneira humanizada e com alta qualidade”, ressaltou o especialista.
As 25 cirurgias aconteceram nos dias 29 e 30, em três salas simultâneas. Os pacientes trans e intersexo selecionados já seguiam acompanhamento no HUGV-Ufam.
Sobre a Ebserh
O HUGV-Ufam faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.