BRUNO BUCIS
DO METRÓPOLES
Apesar da manutenção da proibição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o consumo de vapes é cada vez mais difundido no Brasil. Além dos perigos já comprovados, a fumaça pode ter até substâncias altamente tóxicas e viciantes.
Um estudo divulgado em julho a partir de uma parceria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com a Polícia Científica do Estado registrou a presença de octodrina em 10 amostras de cigarro eletrônico coletadas em Joinville. A substância pertence ao grupo das anfetaminas, podendo causar danos ao coração, e é altamente viciante.
“Existe uma grande diversidade de substâncias no grupo das anfetaminas. O fato é que todas agem de forma semelhante no sistema nervoso central: deixando o indivíduo mais agitado, mais animado, mais excitado. Por outro lado, também podem causar dano no coração”, alerta a professora Camila Marchioni, líder do estudo, em entrevista à Agência Brasil.
Em nenhuma das embalagens dos produtos estava prevista a presença da droga — as pessoas consumiam o entorpecente sem saber.
Os dados coletados pelos especialistas também indicam a presença de derivados de glicerina, flavorizantes e nicotina nas amostras, todas substâncias cancerígenas, o que refuta a ideia anteriormente difundida de que os vapores emitidos pelos dispositivos eletrônicos de fumar seriam inofensívos.
A investigação também alertou que mesmo substâncias que aparentemente não causam problemas de saúde não tiveram análises cientificamente feitas para inalação após exposição a altas temperaturas, por isso não se conhece os efeitos que os vapes podem ter ao longo do tempo.
Acesse nosso canal de notícias no WhatsApp pelo link: FTN BRASIL
“Por conta dos danos do uso do vape, já recebi em meu consultório adolescentes de 17 anos que tinham danos indeléveis no pulmão compatíveis com um idoso de 90 anos”, lamentou a pneumologista Margareth Dalcolmo, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) durante a abertura do 1º Congresso Brasileiro de Câncer de Pulmão, na terça-feira (13/8).
“Esses produtos levam a um vício muito extremo e possuem um risco que nunca poderá ser controlado ou reduzido. Não sabemos o que eles contêm, mas temos visto pacientes terem câncer de pulmão aos 30 anos, uma doença que antes era mais frequente apenas em idosos, por terem começado a usar esses dispositivos aos 12 anos”, completa a especialista.
Consumo de vape é cada vez mais frequente
Apesar dos riscos, a população que consome cigarros eletrônicos no Brasil é cada vez maior. Um relatório do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) estimou em janeiro que há cerca de 3 milhões de consumidores de vape no Brasil. Nos seis primeiros meses deste ano, a Receita Federal apreendeu 760 mil dispositivos eletrônicos de fumar.
“O cigarro eletrônico no Brasil é 100% ilegal. Quem domina esse mercado é o crime organizado, que visa apenas o lucro, sem se preocupar com normas sanitárias, procedência ou segurança para os consumidores. Essa falta de regulamentação deixa quase três milhões de brasileiros expostos a um produto de origem desconhecida, cujos riscos à saúde são potencializados pela ausência de qualquer tipo de fiscalização ou controle. O comércio ilegal desses dispositivos não só prejudica a economia e à saúde pública, mas também fortalece o crime organizado no país”, afirma Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria (FNCP).