BETHÂNIA NUNES
DO METRÓPOLES
O comportamento de Joe Biden, 81 anos, em compromissos oficiais recentes colocou em dúvida a capacidade do presidente dos Estados Unidos de concorrer à reeleição. Opositores questionam a saúde e a idade avançada do democrata, sugerindo que ele deve desistir da candidatura.
O presidente protagonizou quedas, gafes e comportamentos incomuns, particularmente nos últimos meses. Durante o primeiro debate televisivo contra Donald Trump, 78 anos, na quinta-feira (27/6), Biden se apresentou com uma voz fraca e reagiu com expressões perdidas aos questionamentos de Trump.
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Na quarta-feira (2/7), durante um evento de campanha no estado da Virgínia, Biden atribuiu o mau desempenho no debate ao cansaço devido às viagens internacionais. “Eu não fui muito inteligente. Decidi viajar ao redor do mundo algumas vezes, passando por cerca de 100 fusos horários antes do debate. Não dei ouvidos à minha equipe, voltei e quase adormeci no palco. Isso não é desculpa, mas é uma explicação”, justificou.
O que os médicos dizem sobre a saúde de Joe Biden?
A Casa Branca negou, nesta terça-feira (2/7) que o chefe do Executivo norte-americano tenha Alzheimer ou algum tipo de demência e negou estar escondendo informações sobre o estado de saúde do presidente.
“Eu tenho uma resposta para você, você está pronto para isso? É um não! E espero que você esteja fazendo exatamente a mesma pergunta para o outro cara [Donald Trump]”, disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, ao ser questionada por um repórter se Biden tem alguma doença neurodegenerativa.
O relatório de saúde do presidente, divulgado por seus médicos no início deste ano, o declara como apto para cumprir suas funções.
Em entrevista ao jornal Daily Mail, o médico Robert Howard, especialista em psiquiatria da terceira idade na University College London, reforçou que não é possível diagnosticar uma pessoa sem examiná-la, mas o congelamento e a divagação de Joe Biden exibidos em público são sinais de alerta.
“Ele está bem 98% do tempo, mas há ocasiões em que parece ter perdido o fio da meada e outras em que não consegue parar de divagar. Essas flutuações e quedas na atenção são um sintoma fundamental do Parkinson”, considera o médico, um dos principais especialistas em demência do Reino Unido.
A doença de Parkinson é uma condição degenerativa do cérebro associada a sintomas motores, – como movimento lento, tremor, rigidez e comprometimento do equilíbrio -, problemas de sono e distúrbios de saúde mental.
O clínico geral Mike Smith, do sistema de saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) diz não haver dúvidas de que o candidato à reeleição tem comprometimento cognitivo.
“Ele se esforça para encontrar a palavra certa, às vezes termina uma frase com algo que não faz sentido. Por exemplo, na sua fala sobre o sistema de saúde, ele parece ter que se concentrar muito para se manter no tópico. O jeito como ele anda também indica que há alguns problemas de locomoção ali”, afirma Smith.
O declínio cognitivo é caracterizado pela perda da capacidade de realizar atividades que estão diretamente relacionadas ao dia a dia, como lembrar datas, fazer cálculos, planejar e executar alguma tarefa.
De acordo com a neurologista Luciana Mendonça Barbosa, coordenadora do serviço de neurologia do hospital Sírio-Libanês de Brasília, a divagação em idosos é um sinal de alerta que requer uma avaliação neurológica cuidadosa porque pode indicar um quadro inicial de comprometimento cognitivo.
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Mas o diagnóstico é mais complexo e não pode ser feito a partir de aparições públicas. O laudo leva em consideração outras questões, como a recorrência das alterações de memória no dia a dia, se as pessoas próximas percebem se o paciente tem dificuldade para realizar atividades que não tinha antes.
Luciana esclarece que a idade, por si só, não é um fator determinante para que um paciente apresente declínio cognitivo. Cada vez mais estudos mostram superidosos e centenários com bom estado de saúde e capacidade cognitiva preservada.
“As doenças neurodegenerativas, que limitam a cognição, surgem e aumentam as chances de acontecer à medida que envelhecemos, mas não são todos os idosos que terão essas doenças”, afirma Luciana ao Metrópoles.
A capacidade de performance do idoso deve ser avaliada com base em uma ampla gama de fatores, olhando a saúde como um todo porque outras questões também podem debilitar a pessoa e trazer limitações. A médica destaca entre elas: cardiopatias, alterações auditivas, visuais e limitações motoras por artrose e dificuldade de locomoção. “Tudo isso tem que ser olhado para avaliar a capacidade de performance de um idoso”, explica a neurologista.