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Política e Eleições Terça-feira, 26 de Março de 2024, 08:03 - A | A

26 de Março de 2024, 08h:03 A- A+

Política e Eleições / RELAÇÕES EXTERIORES

Lula se reúne com presidente da França Emmanuel Macron, mesmo após ter feito duras críticas contra o Brasil

A autoridade francesa manterá agenda em quatro cidades brasileiras até o dia 28 de março

ELISA RIBEIRO
DA REDAÇÃO

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, recebe o presidente da França, Emmanuel Macron, para uma série de agendas ambientais, políticas e estratégicas nesta semana. A viagem intensifica a cooperação entre Brasil e França e estreita os acordos comerciais entre os países.

A autoridade francesa manterá agenda em Belém/PA, na terça-feira, 26 de março, depois Itaguaí/RJ (na manhã do dia 27), São Paulo/SP (tarde do dia 27) e Brasília/DF (no dia 28). Com exceção de São Paulo, o presidente Lula acompanhará a visita em todas as cidades.

Na primeira parada, Lula recepciona o presidente francês ao Brasil e ambos seguem para a Ilha do Combu, onde visitam comunidades locais e encontram líderes indígenas. Os presidentes vão discutir o bioma amazônico, tema de interesse entre os dois países - a Guiana Francesa, departamento ultramarino da França, possui cerca de 1,4% da floresta em seu território. A agenda é centrada na preservação ambiental e na agenda climática, no desenvolvimento econômico local, na promoção do comércio e da integração das áreas fronteiriças e nas comunidades indígenas.

“Líderes da comunidade (de diferentes etnias inclusive) estarão lá para ter uma conversa franca, aberta com os dois presidentes sobre os seus desafios e as questões que eles enfrentam e como, tanto a França como o Brasil podem ajudá-los a ter uma vida melhor", explicou a embaixadora Maria Luisa Escorel, secretária de Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores (MRE), durante briefing à imprensa nesta sexta-feira, 22 de março.

RIO DE JANEIRO — Ainda no dia 26 à noite, os dois presidentes embarcam rumo ao Rio de Janeiro. Na manhã da quarta-feira (27), Lula e Macron vão de helicóptero até Itaguaí, onde participarão do lançamento ao mar do terceiro submarino do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), parte importante da cooperação dos dois países na área de defesa, tema da Parceria Estratégica entre os dois países, firmada em 2008, durante o segundo mandato do presidente Lula.

“Esse é um programa muito bem-sucedido entre os dois países, é um programa de cooperação e defesa, mas que promove muito o desenvolvimento do setor de inovação no Brasil. São submarinos que protegerão toda a costa brasileira. Nós temos uma costa enorme, como vocês sabem, e, portanto, precisamos de algum tipo de vigilância e de proteção. Esses submarinos terão muito essa função. Mais adiante, há outros dois submarinos que estão previstos”, destacou a embaixadora.

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SÃO PAULO — O presidente Macron seguirá, sem a presença do presidente Lula, para São Paulo, onde participa da abertura do Instituto Pasteur e do Fórum Econômico Brasil-França, que não acontece desde 2019. O encontro tem como objetivo fortalecer a cooperação para aumentar o volume do intercâmbio comercial e dos investimentos recíprocos, por meio da promoção de um ambiente fluido de negócios.

Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, estará presente no evento. "Trata-se de oportunidade para que os líderes brasileiros e franceses busquem novas oportunidades de comércio e investimentos recíprocos", pontuou Maria Luisa.

BRASÍLIA — No dia 28 de março, o presidente Lula volta a recepcionar o presidente francês em Brasília para uma visita de Estado. Após a cerimônia de recepção, acontece a tradicional reunião bilateral entre os dois países e a assinatura de atos. Espera-se que mais de uma dezena de atos bilaterais em negociação possam ser firmados durante a viagem.

“O primeiro ato que nós esperamos que seja adotado por essa ocasião é o novo plano de ação da Parceria Estratégica e que nós também chamamos de Mapa do Caminho. O plano orienta as principais ações identificadas pelos dois países e como nós vamos implementá-las”, finalizou a embaixadora.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

LULA E MACRON REUNIÃO

 

ACORDOS — Entre os acordos discutidos, um sobre a troca (e proteção) mútua de informação e cooperação  é prioridade para o Governo Federal. Quem trabalha neste campo no lado brasileiro é a Secretaria de Comunicação Social (SECOM) da Presidência da República e o Ministério da Educação. Do lado francês, está o Ministério do Trabalho, da Saúde e da Solidariedade.

Também há outro protocolo de intenções de investimento da ordem de R$ 100 milhões de reais entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco da Amazônia e a AFD, que é a Agência Francesa de Desenvolvimento.

O Centro Franco-Brasileiro de Biodiversidade Amazônica é outro destaque nas negociações. "Esse centro, digamos, existe, mas não existe um prédio, não é um edifício. Inicialmente se pensou em criar um prédio edifício, mas isso não prosperou. A ideia agora é retomar esse trabalho sem a necessidade de ganhar o prédio, mas fazendo essas pesquisas, por exemplo, lançando editais e com assuntos de interesse mútuo em que pesquisadores e cientistas dos dois lados possam continuar trabalhando conjuntamente para resultados concretos e construtivos para os dois países", disse a embaixadora.

RELAÇÕES EXTERIORES — As relações franco-brasileiras apoiam-se em firmes laços históricos. A França foi o primeiro país europeu a reconhecer a independência brasileira, em 1825, estabelecendo importantes vínculos políticos, culturais e econômicos com o Brasil. O presidente Lula realizou visita à França em junho de 2023, por ocasião da Cúpula por um Novo Pacto de Financiamento Global.

A França ocupa a posição de 3º maior investidor no Brasil, pelo critério de controlador final, com cerca de US$ 38 bilhões investidos. Em 2023, a corrente de comércio bilateral alcançou US$ 8,4 bilhões, com US$ 2,9 bilhões de exportações brasileiras.

CRÍTICAS AO BRASIL

Por sua vez, Macron não esconde que já teve dias melhores com o Brasil. Na época, o chefe de estado francês insiste sobre a necessidade de ampliar a cooperação para a preservação da Amazônia e pede "mais ambição" em questões climáticas.

Antes mesmo de Jair Bolsonaro assumir a presidência, a troca de farpas entre Paris e Brasília começou. No final de 2018, em Buenos Aires, Macron alertou que sem um compromisso ambiental por parte do Brasil, não haveria um acordo comercial entre a UE e o Mercosul. Em 2019, o presidente brasileiro ofendeu a primeira-dama francesa, gerando indignação por parte do governo de Macron.

Em Brasília,  na época, Bolsonaro ainda esnobou o chefe da diplomacia francesa e cancelou, de última hora, um encontro. Naquele dia, ele optou por ir ao barbeiro fazer uma live, enquanto cortava o cabelo. Durante o G7 em Biarritz, ainda em 2019, Macron sugeriu abrir um debate sobre a responsabilidade internacional de se proteger a Amazônia e recebeu o cacique Raoní.

Ao ser questionado, o que o senhor espera do Brasil para a proteção da Amazônia? Macron  respondeu:  "Acho que nós todos trabalhamos para reduzir o desmatamento. A França, na Guiana, trabalha nesse sentido e para preservar povos autóctones. O que queremos é ampliar a cooperação com todos os países da região para caminharmos nessa direção. O Brasil está fazendo o suficiente? Não vou culpar ou felicitar ninguém hoje. Acho que todos terão de ser mais eficientes para combater o desmatamento. Caso contrário, mataremos a biodiversidade e, acima de tudo, nossa capacidade de lutar contra emissões de CO2. Para mim, vamos matar o equilíbrio na região para as pessoas, Por isso, é muito importante ter mais cooperação e e mais ambição em termos de proteção e preservação da floresta Amazônica. Como o senhor avalia a relação entre o Brasil e a França neste momento? (Depois de um silêncio) Já foi melhor", finalizou o presidente da França, Emmanuel Macron,.

 

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