ELISA RIBEIRO
DA REDAÇÃO
De segunda a sexta, pelo menos seis vezes ao dia, o motorista de van escolar Jair Motta atravessa o Complexo de Viadutos da Scharlau, na Grande Porto Alegre. “Isso aqui era uma tranqueira só. O trânsito ficava parado por coisa de meia hora antes de chegar no viaduto. Eu disse antes! Ainda esperava mais para atravessar. E às vezes eu tinha que cortar caminho por estrada de terra para os estudantes chegarem na hora”, conta. Assim como ele, outras 3 milhões de pessoas da região foram beneficiadas com a conclusão da obra, localizada na BR-116/RS. O empreendimento foi entregue na última sexta-feira (16) pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, juntamente com o presidente Lula.
De moradores a turistas, passando por prestadores de serviço e caminhoneiros, cerca de 140 mil condutores e seus veículos passam diariamente pelo local."Esse era o principal estrangulamento. Resolvemos hoje o maior gargalo logístico do Rio Grande do Sul. Pouco mais de um ano depois do início das obras, entregamos. Parabéns aos servidores do Dnit que realizaram esse trabalho. Tanto de resgate e reconstrução, quanto de construção nessas obras da Scharlau", pontuou o ministro, enquanto vestia o boné do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, responsável pela execução do projeto no Complexo da Scharlau.
O presidente Lula, que cumpriu uma longa agenda com ministros no Rio Grande do Sul ao longo do dia, reforçou o cuidado do Governo Federal com o estado após a tragédia climática. "Não era necessário acontecer o que aconteceu nesse desastre. Antes da enchente, já tínhamos começado o Novo PAC. Não queria inventar a obra que seria importante para cada região, queria saber de cada governador. Trouxemos os investimentos para ajudar o estado assim, ouvindo. Nós estamos recuperando a dignidade desse povo agora, reconstruindo e construindo o que é necessário", elaborou.
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A entrega do Complexo da Scharlau resolve o maior gargalo logístico do Rio Grande do Sul. O novo viaduto fica no entroncamento da BR-116/RS com a BR-240/RS. Ele é caminho tanto para quem acessa Porto Alegre quanto para quem vai para a região de Caxias do Sul, Novo Hamburgo e Gramado e Canela, polos econômicos e turísticos do estado.O vice-governador do estado, Gabriel Souza, ressaltou o bom trabalho realizado para a conclusão da obra. “Essa relação de alto nível entre governo estadual e federal melhora a vida das pessoas. Quero cumprimentar, reconhecer e agradecer sempre que o Governo Federal sempre faz entregas importantes para a população. Essa é uma delas”.
O novo Complexo da Scharlau
A megaestrutura recebeu investimentos de R$ 80 milhões do Governo Federal e foi realizada através do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit). São duas novas alças e o alargamento das pistas de acesso, ampliando a capacidade de fluxo de veículos no viaduto, que passa a ter três faixas em cada sentido. “Hoje, quando eu me atraso, as pessoas estranham. Não tem mais desculpa para o aluno não fazer prova”, brinca Jair Motta ao comemorar o resultado das obras: economia de tempo para ele e para os passageiros.As obras do Complexo Scharlau fazem parte do projeto de melhora em segurança e tráfego da BR-116/RS. Ao longo de 38,5 quilômetros da rodovia, além de 7 quilômetros de revitalização das Avenidas Guilherme Schell e Ernesto Neugebauer, que são uma das principais ligações entre Canoas e Porto Alegre. As ações contemplam sete cidades e o Governo Federal prevê o aporte total de R$ 577,8 milhões até 2026.“As obras na BR-116 são mais amplas que o Viaduto. Não paramos só com o trabalho de recuperação, que foi mesmo amplo e muito bem feito. Chegamos a ter 150 pontos de bloqueio. Abrimos os caminhos que permitiram os resgates, a passagem de alimentos. Já liberamos 149 pontos, falta um, a ponte do Rio Caí. Ainda em dezembro desse ano entregaremos essa obra pronta”, enumerou o ministro Renan.
Artista plástico local, Paulo Schaefer vive a cerca de dois quilômetros do viaduto. Ele não tem carro, mas sente na pele a importância da obra entregue. De manhã, costumava ouvir as sirenes de ambulância que cortavam caminho pela rua dele para chegar a tempo no hospital da cidade.“Nossa, é muito importante. Para quem vive aqui, para quem acompanha e para quem utiliza. Aquilo ali era um nó. Por aqui passavam ambulâncias com gente precisando de socorro. Passavam caminhões e minha casa chegava a tremer porque é uma rua estreita. Daí tu vê a importância desse viaduto, até para quem não tem carro. É uma obra fundamental. É desobstruir uma veia que está trancando o coração das cidades. É um alívio, é um alívio tanto para o transporte como para a saúde da gente”, pondera o artista, conhecido na região como Paulinho dos Quadros.
História por trás da reconstrução
Scharlau, que dá nome ao complexo, é um bairro de São Leopoldo, município da Grande Porto Alegre, e uma das cidades mais afetadas pelas cheias de abril e maio de 2024. Uma realidade que uniu vizinhos e gaúchos de todo o estado. No meio de toda a tragédia, encontraram forças para ajudar uns aos outros.O motorista de van Jair Motta foi voluntário em um grupo de socorro às primeiras vítimas das enchentes. No celular, guarda imagens da cidade de São Leopoldo tomada de lama. Paulinho teve a casa invadida pela água. Perdeu móveis e obras de arte. “Foram dias de terror. Na época da chuva, ficamos mais de 20 dias fora de casa. Quando conseguimos voltar, eu já fiz um espaço aqui para apoiar a população. Porque a população como eu não tinha água para beber, não tinha energia elétrica, não tinha alimento, não tinha roupa, não tinha nada”Cada um ajudando o próximo a seu modo, mal sabiam que estavam lado a lado. Os dois haviam trabalhado juntos nos anos 90 e não se viam há duas décadas. Foram se reencontrar depois das cheias. “Mais de vinte anos que não nos víamos! Passamos pela COVID e passamos agora por essa tragédia, o alagamento, e estamos aí. É bom poder rever este amigo e saber que ele está bem”, comemora Paulinho. “Esse é o meu gerente!”, completa Jair, em um abraço no ex-chefe.
Ações do Governo Federal
Diante da tragédia climática, além do orçamento de R$ 1,7 bilhão já previsto este ano para o Rio Grande do Sul, o presidente Lula autorizou um repasse emergencial de mais R$ 1,2 bilhão em recursos federais e a mobilização de 1,2 mil profissionais do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) no período mais crítico das chuvas. Durante a cerimônia, Renan Filho destacou as ações do ministério para restauração de estruturas no estado.
Desde o início das chuvas, o Ministério dos Transportes atuou de maneira determinante para a liberação de rodovias interditadas por deslizamentos e construção de passagens humanitárias onde as estradas estavam comprometidas. Em menos de dois meses, mais de 80% de todas as rodovias estavam completamente liberadas. Hoje, há apenas um desvio ativo enquanto é construída a ponte permanente sobre o Rio Caí.
A ação rápida garantiu que mantimentos e socorro chegassem a tempo para restabelecer a segurança do povo gaúcho.Ao mesmo tempo, foram preservadas obras de infraestrutura no estado, retomadas assim que o período de chuvas passou. Hoje, toda malha gaúcha está coberta por contratos de manutenção. Com o total de quase R$ 3 bilhões à disposição do estado em 2024, o Rio Grande do Sul possui seis vezes mais recursos para infraestrutura do que os destinados em 2022.