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Geral Quarta-feira, 13 de Novembro de 2024, 14:21 - A | A

13 de Novembro de 2024, 14h:21 A- A+

Geral / REVELOU DETALHES

Delator do PCC citou lavagem com advogado que pôs sua cabeça a prêmio

Vinícius Gritzbach relatou mensagens e até foto de dinheiro vivo atribuídas a advogado que mencionou prêmio de R$ 3 milhões por sua cabeça

LUIZ VASALLO
DO METRÓPOLES

O delator Vinícius Gritzbach, 38 anos, executado com tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na sexta-feira (8), revelou em acordo de colaboração premiada detalhes de sua relação com o advogado Ahmed Hassan, o Mude, que aparece em uma gravação com um policial civil não identificado oferecendo R$ 3 milhões por sua morte.

O advogado é citado como um dos operadores da lavagem de dinheiro de controladores da UpBus, empresa de ônibus que opera linhas na zona leste paulistana acusada de lavar dinheiro para o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Mude aparece em duas situações diferentes na delação de Gritzbach. A primeira, como operador na compra de imóveis pelos cabeças do tráfico de drogas. Contratos, mensagens e até fotos de dinheiro vivo robustecem o relato do delator. A segunda, em um áudio que ele diz ter recebido, no qual Mude afirma que a cabeça de Gritzbach estaria a prêmio e que poderia custar R$ 3 milhões.

Mude era acionista da UpBus e foi um dos 13 presos na Operação Decurio, em agosto deste ano. Posteriormente, ele passou para prisão domiciliar. Ele era ligado ao grupo de Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, para quem Gritzbach assumiu ter operado um esquema milionário de lavagem de dinheiro em imóveis e bitcoins.

Cara preta foi morto em 2021, e Gritzbach é acusado de participar de sua morte — ele nega. Eles teriam se desentendido porque o delator teria perdido dinheiro do traficante. Após a morte de Santa Fausta, Gritzbach passou a ser ameaçado. Nesse contexto, ele cita o áudio de Mude com um interlocutor que seria um policial não identificado.

“Tá facinho”

No áudio, Mude cita: “Você acha que três [milhões] vai?”, pergunta o advogado ligado ao PCC. “É, pensa nos três, vai pensando, me fala depois”, responde o policial. “Mas você acha que ‘tá’ fácil resolver ou ‘tá complicado’?”, indaga o advogado, ao que o policial afirma: “Tá fácil, facinho”.

Gritzbach foi morto na última sexta-feira (8), com 10 tiros, na saída do Aeroporto de Guarulhos. Os mandantes do crime ainda são investigados. Antes de morrer, ele afirmava ser ameaçado por pessoas ligadas a Santa Fausta.

Segundo um dos integrantes da força-tarefa que investiga o caso, um dos principais suspeitos pela morte de Gritzbach é o líder do PCC Silvio Luiz Ferreira, conhecido como Cebola, ex-diretor da UpBus, empresa de ônibus que está sob intervenção da Prefeitura de São Paulo após ter sido alvo de operação do Ministério Público paulista (MPSP) por suspeita de lavagem de dinheiro da facção.

O corretor e o advogado

Foi na condição de corretor de imóveis que Gritzbach relatou ter tido seu primeiro contato com Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, e Claudio Marcos de Almeida, o Django, ambos ligados à UpBus. Ele diz que, em razão de um problema na venda de um apartamento, acabou descobrindo que eles compravam imóveis usando “laranjas”. Por consequência, também conheceu Mude.

Gritzbach afirmou que foi apresentado por um colega a Silvio Luiz Ferreira — que se apresentava como Rodrigo Martins —, o Cebola, liderança da cúpula do PCC e também ligado à UpBus em parceria com Django. Cebola se dizia comprador de um imóvel no Edifício Camille, no Tatuapé, de 280 metros quadrados. O imóvel acabou ficando formalmente em nome de Mude.

Em delação, o empresário exibiu um contrato de R$ 3 milhões em nome do advogado pela compra do apartamento. Segundo ele, o pagamento pelo imóvel foi feito por Rafael Maeda e Ademir Pereira de Andrade, ambos apontados por Gritzbach como testas de ferro dos traficantes.

Dinheiro vivo e intimidade

Gritzbach entregou, ainda em delação premiada, documentos pessoais, contratos de vendas de imóveis e uma série de trocas de mensagens com Mude. Em parte dessas conversas, eles demonstravam alguma amizade.

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Em um dos diálogos em aplicativo de mensagem, o delator encaminha a Mude uma mensagem de cobrança por um pagamento. Em resposta, o advogado diz: “Quando tiver o dinheiro. Manda se foder”. Gritzbach responde, bem-humorado: “Calma, amor”.

Em diversas mensagens, eles mencionam imóveis em nome de terceiros. Em uma delas, Mude chega a enviar uma foto de maços de dinheiro vivo pelo pagamento de um imóvel e diz: “Já fala para ela me mandar os recibos”.

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