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Polícia Terça-feira, 17 de Junho de 2025, 14:32 - A | A

17 de Junho de 2025, 14h:32 A- A+

Polícia / R$ 28 MILHÕES EM EMENDAS SUSPEITAS

Empresário soube de operação e viajou com a família na véspera, revela investigação da Polícia Civil

Alessandro do Nascimento se livrou de documentos, celular e comprou passagens aéreas horas antes

CÍNTIA BORGES
DO SITE MIDIANEWS

A Polícia Civil diz ter “fortes indícios” de que a Operação Suserano tenha vazado para o empresário Alessandro do Nascimento, o Sandro Tubarão. Deflagrada no dia 24 de setembro do ano passado, a operação tinha como principais alvos o próprio empresário e sua filha, Ana Caroline Ormond.

A operação investigou supostas compras superfaturadas de kits agrícolas, por meio de emendas de deputados estaduais, na Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), com o Instituto Pronatur.

Conforme a Polícia Civil, às vésperas da operação, Alessandro teria comprado passagens aéreas às pressas, para ele e a família, retirado duas caixas com documentos de casa, se livrado de celular e notebook e voltado um dia depois para Cuiabá. 

O inquérito, presidido pela delegada Juliana Rado, apontou que Alessandro teria embarcado no Aeroporto Internacional Marechal Rondon - para um destino não informado no inquérito policial – horas antes da operação ser deflagrada.

Para a Polícia “tal circunstância evidencia que ambos [pai e filha] já tinham conhecimento prévio das medidas que seriam adotadas contra eles, agindo de forma célere com o objetivo de se evadir da operação e destruir possíveis evidências”.

Segundo o relatório, ao cumprir ordem de busca e apreensão na casa e na loja de Alessandro, a Tubarão Sports, e não encontrá-lo, a Polícia Civil pediu imagens e informações à administração do aeroporto de Cuiabá a respeito de uma possível viagem do empresário.

O relatório da Suserano aponta que os agentes, ao invadir a casa do empresário, “constataram indícios de que haviam deixado o imóvel recentemente” e ainda observaram “vestígios de manuseio de malas e roupas”.

Assim, obtiveram imagens do aeroporto que revelam que Alessandro adquiriu passagens aéreas em 23 de setembro, às 19h — apenas dez horas antes do início da operação. Ele embarcou com a família na madrugada do dia 24 para rumo não informado.

“Foram obtidas as imagens fornecidas pelo Aeroporto, nas quais foi possível identificar a dinâmica da saída de Alessandro e sua família da cidade, na noite de 23/09/2024”, detalha o relatório.

A investigação diz que em vídeos é possível ver Alessandro comprando a passagem no balcão, enquanto sua filha Ana Caroline “lhe repassa o cartão para a efetivação da compra”.

Alessandro, a mulher Herley Cristina, a filha Ana Caroline Ormond e outra menor de idade voltaram a Cuiabá no dia 25 de setembro, um dia após a operação ser deflagrada, momento em que foram abordados pelos policiais ainda no aeroporto.

Celular e notebook ocultados

A Polícia diz que abordou Alessandro e sua família com discrição e apreendeu, junto ao empresário, o montante de R$ 10 mil em espécie e um celular Samsung. Ocorre que a investigação tinha informações de que o empresário usava um aparelho Iphone à época.

Em posse das imagens feitas por câmeras de segurança do aeroporto, a Polícia viu que antes de embarcar Alessandro entrou em uma loja (quiosque) no aeroporto, onde deixou um celular e um notebook. 

Segundo o relatório, o funcionário da loja “informou que Alessandro havia deixado um celular e um notebook no estabelecimento”. A loja pertence a uma amiga de infância de Ana Caroline, esposa de Alessandro.

A Polícia Civil também apurou que Alessandro procurou os pais da dona da loja, em seu apartamento, em Cuiabá, e deixado com eles dois caixotes plásticos pretos, com diversos documentos acondicionados, na noite antes de embarcar para a viagem. 

“Segundo relatado, Alessandro foi até o prédio onde [o casal amigo] reside, com a finalidade de deixar documentos acondicionados em caixas, solicitando que [o homem] os guardasse”, consta em documento.

“Em 23/09/2024, por volta das 20h30min, Alessandro do Nascimento, conduzindo o veículo modelo Range Rover Evoque, dirigiu-se até o referido condomínio e entregou algumas caixas”, diz em outro trecho.

Operação Suserano

Na sede da empresa Tubarão Sports, os agentes apreenderam canhotos de cheques com anotações da palavra “saque” e documentos relacionados ao Prontur e à empresa Tupã Comércio. 

Em uma sala administrativa, um caderno chamou atenção: “Constava a expressão: ‘queimar’ documentos”, consta em relatório da Polícia Civil.

As investigações tiveram início a partir do relatório de auditoria da CGE (Controladoria-Geral do Estado), que apontou sobrepreço de até 80% do valor de mercado em termos de fomento que seriam usados para a compra de kits de agricultura familiar, no valor de R$ 28 milhões.

Além do pai e filha, também foi alvo o ex-secretário da pasta Luiz Artur de Oliveira Ribeiro, Luluca Ribeiro (MDB). Ainda foram alvos Leonardo da Silva Ribeiro, Rita de Cássia Pereira do Nascimento, Wilker Weslley Arruda Silva, Yhuri Rayan Arruda de Almeida, Matheus Caique Couto dos Santos, Euzenildo Ferreira da Silva e Diego Ribeiro dos Souza.

Indícios de crimes eleitorais

A delegada Juliana Rado conclui que “há fortes indícios da prática de ilícitos penais relacionados ao desvio de recursos públicos”, especialmente vinculados a emendas parlamentares e contratos com o Instituto Pronatur.

O material também aponta para tentativas de obstrução da Justiça e destruição de provas.

Diante dos indícios e da possível ligação com as eleições de 2024, o inquérito foi encaminhado à Polícia Federal. 

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