ELISA RIBEIRO
O Ministério da Saúde garantiu insumos suficientes para realizar testes de malária no território Yanomami por 12 meses. O mais recente investimento foi a entrega de 390 mil lancetas para exames padrão ouro, ou seja, de alta qualidade para o diagnóstico. Desde 2022, o estoque do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) não mantinha um nível de abastecimento tão alto.
A malária centraliza uma série de investimentos da pasta. Além da ampliação da testagem, o ministério trabalha para aprimorar a notificação dos casos e promover tratamento adequado no tempo oportuno, ou seja, no início da doença.
Em 2024, houve aumento de 83,1% no número de exames realizados para diagnóstico da doença no território Yanomami, comparando-se com o mesmo período do ano anterior. O volume de testes passou de 37,5 mil no primeiro trimestre, para 68,7 mil no mesmo período deste ano.
Acesse nosso canal de notícias no WhatsApp pelo link: FTN BRASIL
Rute Helen de Souza, responsável pelo Centro de Abastecimento Farmacêutico (CAF) do Dsei Yanomami, explica que a manutenção de um alto estoque é essencial para a elaboração de ações específicas e manutenção da vigilância da doença. “Esse nível de abastecimento representa a capacidade de a gente ter o diagnóstico de qualidade e expandi-lo pelo território. Assim, o tratamento é iniciado em tempo oportuno, ou seja, no começo da doença”, frisa.
Luciano Bulegon, referência técnica da malária no Dsei Yanomami, destaca que a maior testagem é importante para o monitoramento do comportamento da doença na região. “O aumento do número de locais de diagnóstico e tratamento, além do reforço nas equipes de saúde, resultaram no conhecimento mais profundo do cenário, o que é primordial para a elaboração de ações estratégicas para mitigar a doença”, conclui.
Reforço no tratamento
O Ministério da Saúde ampliou a oferta de medicamentos para o tratamento da doença. Em março, a pasta implementou a tafenoquina, antimalárico em dose única para tratamento da malária Vivax . Quatro mil tratamentos foram disponibilizados para o DSEI Yanomami. Em dose única, tratamento facilita adesão de pacientes, aumenta chances de cura e pode ser um aliado na busca pela eliminação da doença.
Em agosto deste ano, a população Yanomami voltou a receber o tratamento contra a malária artesunato + mefloquina, conhecido como ASMQ, para crianças entre 6 meses e 6 anos. O insumo estava em falta desde 2022. O medicamento é uma estratégia essencial, pois permite a dissolução do comprimido em água para facilitar o uso, o que aumenta a adesão à terapia.
O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), restabeleceu o envio em julho. Ao todo, o Dsei Yanomami recebeu 4.570 unidades do medicamento neste mês.
O medicamento é indicado para utilização em crianças de baixo peso (5 a 17kg) acometidas por malária Falcíparum e malária Mista. No período em que estava em falta, a terapia estava sendo feita com medicamento substitutivo que necessitava de duas doses por dia, dificultando a adesão e a finalização do tratamento.
O AMSQ foi incorporado ao Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária e disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2009, mas teve sua fabricação interrompida em 2021. Ele associa as substâncias cloridrato de mefloquina e artesunato, antes administradas separadamente contra a doença.
Boletim
O Ministério da Saúde divulgou, em 5 de agosto, um novo informe do Comitê de Operações Emergenciais (COE) Yanomami . No primeiro trimestre deste ano, foram notificados 74 óbitos no território. Na comparação com igual período do ano passado, houve uma queda de 33%. Nos três primeiros meses de 2023 foram registradas 111 mortes. O documento ressalta que os principais agravos tiveram queda, dentre eles óbitos por malária, desnutrição e infecções respiratórias agudas graves.
O povo Yanomami tem a maior terra indígena do Brasil, com 10 milhões de hectares, mais de 380 comunidades e 30 mil indígenas. Desde janeiro de 2023, o Ministério da Saúde investe para mitigar a grave crise causada na região pelo garimpo ilegal. A pasta aumentou o efetivo de profissionais, dobrou o investimento em ações de saúde e trabalhou para garantir a assistência e combater doenças, como a malária e a desnutrição, no território.