BETHÂNIA NUNES
DO METRÓPOLES
Um homem de 45 anos com esclerose lateral amiotrófica (ELA) conseguiu voltar a se comunicar depois de colocar um implante cerebral capaz de traduzir seus sinais cerebrais para um computador. O caso foi publicado nessa quarta-feira (14/8), na revista New England Journal of Medicine.
Casey Harrell foi diagnosticado com ELA há cinco anos. A doença degenerativa afeta o sistema nervoso de forma progressiva, levando à paralisia motora e ao comprometimento do controle dos músculos usados para falar, engolir, se movimentar e até respirar.
O implante usado no paciente foi desenvolvido por pesquisadores da UC Davis Health, da Universidade da Califórnia (EUA), e usa uma tecnologia conhecida como interface cérebro–computador (BCIs, da sigla em inglês).
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A neuroprótese está sendo aperfeiçoada para restaurar a comunicação de pessoas que não conseguem falar devido à paralisia ou condições neurológicas como a ELA. A tecnologia transforma os sinais cerebrais dos pacientes em texto na tela do computador ou permite que a máquina faça uma “dublagem”.
“Não ser capaz de se comunicar é tão frustrante e desmoralizante. É como se você estivesse preso. Algo como essa tecnologia ajudará as pessoas a voltarem à vida e à sociedade”, contou Harrell em uma das sessões de teste do equipamento.
De acordo com os autores, esse é o sistema mais sofisticado desse tipo até agora, com 97% de precisão. É comum que sistemas semelhantes tenham limitações, com erros frequentes de palavras, o que pode atrapalhar a comunicação do usuário.
“Nossa tecnologia BCI ajudou um homem com paralisia a se comunicar com amigos, familiares e cuidadores”, informou o neurocirurgião da UC Davis, David Brandman, em comunicado à imprensa.
Com a ajuda de um software treinado com amostras de áudio de Harrell de antes do diagnóstico da ELA, os pesquisadores conseguiram criar uma voz que soava parecida com a dele.
Fala com 97,5% de precisão com implante cerebral
O dispositivo foi implantado no cérebro de Harrell em julho de 2023. Foram colocados quatro conjuntos de microelétrodos no giro pré-central esquerdo, uma região do cérebro responsável pela coordenação da fala.
O equipamento foi ligado 25 dias após a cirurgia. Na primeira sessão de treinamento, o sistema levou 30 minutos para atingir 99,6% de precisão de palavras com um vocabulário de 50 palavras.
No segundo dia, após quase uma hora e meia de treinamento do sistema, ele atingiu 90,2% de precisão com um vocabulário de 125 mil palavras.
Com mais dados de treinamento, a neuroprótese chegou a 97,5% de precisão após 84 sessões de coleta de dados nas 32 semanas (cerca de oito meses) após a implantação cirúrgica. O paciente conseguiu chegar a uma taxa de aproximadamente 32 palavras por minuto por mais de 248 horas totais de uso do sistema.
“Neste ponto, podemos decodificar o que Harrell está tentando dizer corretamente cerca de 97% das vezes, o que é melhor do que muitos aplicativos de smartphone disponíveis comercialmente que tentam interpretar a voz de uma pessoa. Esta tecnologia é transformadora porque fornece esperança para pessoas que querem falar, mas não conseguem. Espero que uma tecnologia como esta BCI de fala ajude futuros pacientes a falar com suas famílias e amigos”, considerou Brandman.