ELISA RIBEIRO
DA REDAÇÃO
O jornalista e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Bruno Araújo, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Poder (PPGCOM) da instituição, Bruno Araújo foi absolvido em ação de danos morais movida pelo deputado federal Abilio Brunini (PL). Decisão saiu essa semana.
Na decisão, o juiz Jamilson Haddad Campos, do 3º Juizado Especial Cível de Cuiabá, afirmou que a entrevista concedida pelo professor não feriu a imagem do deputado, sendo descabido o dever de indenizar.
Na ação, Abílio alegou que a declaração do professor é uma "falsa acusação grave em seu desfavor" e, por isso, requereu a reparação.
“Verifica-se que o reclamado concedeu entrevista ao Jornal Digital Olhar Direto, como crítico e pesquisador especialista no tema politica e democracia, trazendo em seu teor conteúdo histórico e fundamentado acerca do gesto analisado pelo cientista, e aqui, ressalta-se que não se faz juízo de valor sobre o gesto em si, ante a própria complexidade de seus desdobramentos”, escreveu.
“Se adentrarmos ao gesto em si, podemos levar em consideração todo o discurso do reclamado que, como pesquisador científico do tema, nos informa sobre a possibilidade do gesto com o parâmetro vivenciado no país e toda sua conjuntura política, ou seja, cunho informativo e instrutivo sobre a construção estrutural do ‘White Power’, em tradução ‘Poder Branco””, acrescentou.
No ano passado, o docente, que desenvolve pesquisas e análises de eventos políticos e midiáticos, havia concedido entrevista a um site de nóticias e que foi publicada no dia 26 de agosto deste ano.
Na matéria, Araújo analisa, na qualidade de pesquisador e autoridade na área, a polêmica envolvendo um suposto gesto supremacista feito por Abílio durante a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do 8 de Janeiro e o contexto de mobilização do movimento bolsonarista. O gesto analisado era o símbolo de “OK” com uma das mãos, que é relacionado a grupos supremacistas brancos.
Na época, o parlamentar alegou em nota que o professor teria divulgado fake news contra ele.
Em nota, o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMT (PPGCOM), do qual Bruno Araújo é membro docente, defende que o professor é vítima de perseguição política e, ainda cita, que a perseguição por meio judicial “é uma conhecida estratégia usada pela extrema direita para censurar o saudável debate acadêmico e social”.
Em vídeo gravado em 24 de agosto de 2023, durante uma sessão da CPMI sobre os Atos Antidemocráticos, o deputado federal fez um gesto que seria idêntico àquele conhecido como “ok invertido”, um símbolo ligado ao movimento supremacista branco. O gesto é condenado por entidades nacionais e internacionais que o reconhecem como um símbolo de ódio e extremismo.
A atitude de Brunini teve repercussão nacional e foi comentada por diversos especialistas, incluindo Araújo. O deputado nega ter feito o gesto supremacista e justifica que fez apenas o sinal de número três com a mão, mantendo um círculo com os outros dedos. Em nota, ele acusa o professor de divulgar fake news e diz que aguarda o resultado da justiça
Os professores e professoras do PPGCOM, na nota, manifestaram apoio ao docente, que foi informado da ação em novembro. Houve uma audiência de conciliação.
"Araújo é um profissional com sólida trajetória de investigação científica no campo dos estudos sobre mídia e populismo e desenvolve, atualmente, uma série de pesquisas e análises de eventos políticos e midiáticos que incluem não apenas, mas também, atores do cenário político de Mato Grosso. Em uma democracia, é fundamental garantir que professore(a)s e pesquisadore(a)s possam exercer sua liberdade de cátedra e sua liberdade de expressão, amplamente asseguradas por nossa Constituição Federal, pelo Pacto de Direitos Civis e Políticos e pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos, sem que haja qualquer tipo de censura ou limitação ao livre exercício da manifestação de pensamento. Esses direitos incluem a liberdade de realização de pesquisas e de suas divulgações por intelectuais, pela imprensa e pela universidade", defendem no documento.