PAULA VALÉRIA
DA REDAÇÃO
O aumento alarmante nos focos de queimadas no Pantanal em 2024 é preocupante, especialmente considerando as condições de chuvas abaixo da média histórica desde o final do ano passado. Com 880 focos registrados até agora, um aumento de 898% em comparação ao mesmo período de 2023 e de 253% em relação à média dos três anos anteriores, essa situação destaca os desafios contínuos de gestão ambiental e prevenção de incêndios na região. Os dados são do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e refletem a urgência de medidas robustas para proteger o Pantanal, um dos biomas mais importantes do Brasil.
Esses números alarmantes demonstram a gravidade da situação no Pantanal, principalmente no Mato Grosso do Sul, que está enfrentando um aumento significativo nas queimadas devido à falta de chuvas e às altas temperaturas. O avanço das queimadas reforça os alertas feitos por especialistas de que a seca severa no bioma poderá aumentar o número de incêndios de grande escala comparáveis aos que devastaram 30% de suas áreas naturais em 2020.
Apenas no mês de maio, foram registrados 246 focos de queimadas no bioma, contra 33 em maio de 2023. A temporada de seca, porém, ainda está em seu início. Historicamente, os incêndios no Pantanal se concentram entre os meses de agosto e outubro, com um pico em setembro.
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“Em 2020, tivemos aquele fogo catastrófico e as análises atuais mostram que os números de 2024 estão muito parecidos com os que tínhamos naquele ano. Felizmente, todos os setores e a sociedade pantaneira estão alertas porque têm consciência de que se nada for feito, há possibilidade da repetição de grandes incêndios. É preciso atuar rapidamente reforçando as brigadas e contando com o apoio das comunidades locais para evitar uma catástrofe”, afirma Cyntia Santos, analista de conservação do WWF-Brasil.
Segundo ela, a falta de chuvas, a pouca quantidade de água acumulada no território e o acúmulo de matéria orgânica seca, características dos solos pantaneiros, são alguns dos principais fatores que tendem a exacerbar os incêndios. O Serviço Geológico Brasileiro reportou que o Rio Paraguai, o principal da região, apresenta os menores níveis históricos. Um exemplo é a estação de medição de Porto Murtinho (MS), que manteve uma altura sempre abaixo de 250 cm desde o início do ano, enquanto sua altura normal costuma ser em média entre 250 e 550 cm no período.
“Os rios estão com baixos níveis em diversas partes do bioma e há previsão de que o Rio Paraguai se mantenha esse ano dentro dos níveis mais baixos da história”, declarou Cynthia.
Fenômeno El Niño 2023
A situação no Pantanal é crítica, especialmente com a seca extrema exacerbada pelo forte El Niño de 2023. A previsão de uma das piores secas da história para 2024 foi destacada por especialistas desde o início do ano, quando o bioma foi afetado por uma seca severa durante o período normalmente de cheias. Segundo dados do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec), do governo de Mato Grosso do Sul, naquele momento as chuvas estavam atingindo níveis de 600 a 800 milímetros, enquanto o normal seria de 1.400 milímetros.
As chuvas, escassas e irregulares nos primeiros meses de 2024, foram insuficientes para transbordar os rios e conectar lagoas e o Rio Paraguai, o principal do bioma, atingido níveis baixos para esta época do ano. Com uma seca tão severa, era previsto que o Pantanal sofreria ao longo de 2024 com a ameaça de incêndios florestais. Com a seca antecipada em 2024, o baixo nível dos rios e as altas temperaturas, há receio de que se repitam os devastadores incêndios de 2020.
Segundo Cyntia, o estado do Mato Grosso do Sul possui uma legislação que estabelece as instruções adequadas para as práticas de Manejo Integrado do Fogo (MIF). “O MIF é uma necessidade primordial para evitar grandes incêndios no Pantanal. Essa lei traz a criação de um fundo que também visa projetos de Pagamento por Serviço Ambiental, que permitem que proprietários façam o manejo das pastagens e a prevenção de incêndios, promovendo melhorias no manejo de pastagens, garantindo a sustentabilidade da convivência harmônica entre seres humanos, criação bovina e manutenção da biodiversidade”, disse ela.
Por conta do alerta de chuvas abaixo da média, o governo do Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência ambiental no dia 9 de abril, por 180 dias. No início de maio, com base em dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a Agência Nacional de Águas (ANA) avaliou que os estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso já estão em situação de seca. Diante da falta de chuvas e temperaturas acima da média histórica na Bacia do Alto Paraguai, a ANA declarou situação de escassez hídrica iminente na região.