ELISA RIBEIRO
DA REDAÇÃO
Bolsistas da Capes do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação da Universidade de São Paulo (USP) atuam em diversas áreas do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, também vinculado à USP. Na unidade de saúde, os pesquisadores aprimoram suas formações e participam da reabilitação de pacientes, integrando teoria e prática em um ambiente colaborativo.
O Programa de Pós-Graduação (PPG) é multidisciplinar e abrange pessoas com formações em diversas áreas. Mestre e doutorando pelo programa, Bruno Mariano Ribeiro Braga é formado em Odontologia pela Universidade de Marília. Atuante no pós-doutorado no PPG da USP, Marcela Garnica Cristina Siqueira é graduada em Biomedicina, além de ter concluído o mestrado e o doutorado em Ciências Fisiológicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Bruno Braga e Marcela Siqueira são dois dos 96 bolsistas contemplados no acordo firmado entre a Capes e a USP em 2022.
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Bruno Braga desenvolve atividades de pesquisa na Seção de Cirurgia Bucomaxilofacial da Divisão de Odontologia do HRAC. No seu dia a dia, ele acompanha profissionais da área, realiza estudos sobre enxertos ósseos alveolares em pacientes com fissura labiopalatina (popularmente conhecido como lábio leporino) e convida pacientes para participarem de seu projeto de doutorado. “Estou experimentando um material feito com o próprio sangue do paciente para ser utilizado na cirurgia de enxerto ósseo para fissura”, explica. Os equipamentos necessários para a pesquisa foram adquiridos com recursos da Fundação.
A fissura labiopalatina é uma anomalia craniofacial na qual a pessoa nasce com fissuras no lábio e/ou no céu da boca. Isso é corrigido ainda na primeira infância, mas ali entre 10 e 12 anos de idade o paciente precisa de um enxerto ósseo para corrigir o defeito na gengiva. “Um dos principais objetivos da cirurgia é preencher o defeito ósseo e permitir um alinhamento dos dentes”, diz o pesquisador.
No segundo ano de doutorado, o bolsista está na fase de coleta de dados dos pacientes interessantes e se prepara para seguir para a Universidade de Michigan, nos EUA, onde dará continuidade à sua pesquisa por meio do Programa Institucional de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE), da Capes. Na Universidade de Michigan, Braga analisará as tomografias dos pacientes visitantes no Brasil: “Eles têm uma grande expertise na análise de exames tridimensionais. Embora tenhamos vários softwares aqui, lá eles estão mais atualizados em relação à inteligência artificial”.
Marcela Garnica Siqueira, por sua vez, é atuante na Seção de Laboratório de Fisiologia, no Departamento Hospitalar do HRAC. “Usamos exames de imagem dos pacientes para criar uma visualização em três dimensões dessas vias respiratórias dos pacientes. Com isso, nós conseguimos estudar o tamanho dessas vias respiratórias, avaliamos o volume, a área de secção transversal e utilizamos essa imagem criada para fazer uma simulação em computador”, afirma a pesquisadora. “Nisso, observamos as diferenças de pressão, de resistência, de temperatura que podem acontecer”, explica.
Esse processo, diz a pesquisadora, serve para não submeter os pacientes a procedimentos desnecessários. Parte deles, aliás, compõe o público-alvo específico da pesquisa do estágio pós-doutoral de Marcela. A cientista tem dado uma atenção especial aos pacientes que tiveram COVID-19 para constatar se, devido às alterações que os pacientes têm nas vias aéreas por conta das anomalias craniofaciais, eles integram um grupo de risco da doença causada pelo coronavírus.
Sobre o acordo
O Acordo de Cooperação Capes/USP – HRAC é um programa estratégico que tem por objetivo estimular a formação de recursos humanos de alto nível em um centro de excelência em saúde, com foco na reabilitação de anomalias craniofaciais. Por ele, a Capes investirá R$ 6,8 milhões ao longo de quatro anos.
As cifras são separadas em R$ 500 mil para recursos de custeio e de capital e R$ 6,3 milhões para a concessão de 96 bolsas (48 de mestrado, 20 de doutorado e 26 de pós-doutorado). “A oferta dessas bolsas trouxe um incremento de mais de 90% na procura pelo programa e um aumento na oferta de vagas em torno de 40%”, afirma Ivy Suedam, coordenadora do PPG em Ciências da Reabilitação da USP.
Sobre o HRAC
Fundado em 1967, o HRAC — reconhecido pela Organização Mundia de Saúde (OMS) e certificado como Hospital de Ensino pelos Ministérios da Saúde e da Educação —, antes conhecido como Centrinho, é um centro de referência do País no tratamento da fissura labiopalatina, uma anomalia craniofacial que atinge uma em cada 650 crianças nascidas no Brasil. Além do atendimento a cerca de 130 mil pacientes, no local são formados profissionais de alto nível.
O HRAC recebe apoio da Capes desde 1987, por meio de bolsas e recursos de custeio. O atendimento tem forte ligação com a investigação acadêmico-científica e técnicas desenvolvidas pelos estudantes e professores. O hospital contribuiu com a criação do Instituto Yaçuri da Amazônia, que conta com egressos do HRAC, inclusive a diretora da instituição, que realiza, além de cirurgias de fissuras, o aconselhamento, apoio nutricional e fonoterapia, além de outros atendimentos a crianças da região.